Ainda na esteira do que escrevi outro dia, continuo a relatar algumas impressões e/ou curiosidades que tenho registrado sobre falares e mundividência coimbrã. Insisto que relato apenas o que colhi empiricamente (embora o título sugira algo psicografado), não fosse, poderia fornecer melhores exemplos, bastaria pesquisar na internet. E ressalvo que não me atrevo a estender as impressões como representativas do país, afinal, ainda não me afastei de Coimbra, e ainda que o faça, serão por poucos dias, o que não me autorizaria a emitir juízos sob pena de incorrer em essencialismos.
Bem... no texto Pequeno Glossário de termos inúteis, falei que por vezes me demora para “cair a ficha”, expressão cuja origem, creio, já não é percebida pelas crianças no Brasil. Pois aqui, a maioria dos “orelhões” funcionam simultaneamente com cartão ou “fichas” (na verdade moedas de qualquer valor). O que equivaleria à nossa “Zona Azul”, é totalmente automatizada, como nos filmes americanos: o motorista é que retira o cartão em máquinas espalhadas pelas áreas de estacionamento (seria o fim dos “guardinhas” em Piraju e Ourinhos). Interessante que há também aparelhos para retirar saquinhos para limpar a sujeira que eventualmente seu cão faça durante um passeio na praça.
Outra coisa: por aqui se aboliram as “catracas” (roleta, borboleta, ou o que o valha), seja para entrar no teatro, ônibus e até no metrô! De resto, tem-se o mesmo sistema automatizado que há na maioria das cidades brasileiras, mas sem catracas! É que pra mim, é inimaginável o metrô de São Paulo, por exemplo, sem esse dispositivo, com as pessoas “validando” ordeiramente seus bilhetes e entrando no trem. Só que neste ponto há que ponderar que a grande São Paulo sozinha possui mais habitantes que Portugal inteiro. Observar essas proporções é fundamental para fazer algumas comparações.
A cidade do Porto (2ª maior do país e onde tomei esse metrô sem catraca) tem apenas cerca de 1 milhão de habitantes. Mas não há que se iludir, sejamos justos com o Brasil, também aqui há ônibus urbanos lotados, com gente socada em pé, cocô de cachorro na calçada (a despeito dos já citados saquinhos) e os professores de nível médio estão mobilizados contra o sistema de avaliação e por melhores salários que, aliás, proporcionalmente, são bem inferiores aos do Brasil. Afora o fato de que um recém-licenciado em Letras, por exemplo, só consegue colocação no magistério muito raramente.
E falando ainda de proporções, prof. Laranjeira – meu orientador aqui – insiste em comparar Portugal ao Paraná, ambos apenas com duas cidades que se destacam (Lisboa e Porto – Curitiba e Londrina). Nessa lógica, Coimbra seria uma espécie de Maringá, ainda que menor. Mas faça-se agora justiça com Portugal: isso aqui é um país, e um país europeu com uma vasta história, muito diferente dos 70/80 anos que tem a maioria das cidades paranaenses.
Coimbra é aproximadamente do tamanho de Ourinhos, o que para as proporções daqui é uma cidade “média” (!), embora o prof. Laranjeira insista num certo provincianismo (caipiragem) da cidade. Veja-se apenas um exemplo bobo: há pelo menos 3 MacDonald´s nessa cidade de 130 mil habitantes (!) e 2 shopping centers como aí só encontramos em cidades do porte de Bauru, Campinas... Agora, a par desse aspecto de ostentação (não sei se essa é a melhor palavra) há sim com puxar pelo provincianismo: nos finais de semana temos uma cidade fantasma. Todos se entocam, vão às aldeias vizinhas em visitas familiares ou aos shoppings (no verão por certo vão à praia, que está a cerca de 40 km).
Outro pormenor: assim como em Piraju, onde se joga na rua os panfletos das “notas de falecimento” (em cidades menores anuncia-se nos alto-falantes da igreja), aqui, os necrológios – com direito à foto – são colados nos postes da rua. Mais provinciano que isto, impossível!
Quase já estava me perdendo sem encontrar um fecho adequado para o texto. Acho que estou ficando com sono, já são 11 menos 5 (é assim que se diz aqui, e não “5 pras 11”). Como também se diz 10 e ¼ para “10 e 15”; pra mim faz todo sentido, uma vez que usamos ½ para nos referirmos aos 30 minutos (meio dia e ½), por que não usar o ¼ para os 15?
Pois bem, o fecho: para quem não conhece, vale à pena ler As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, só para refletirem o quanto podem fiar-se nas palavras de alguém que se aventura a descrever a cidade.
Bem... no texto Pequeno Glossário de termos inúteis, falei que por vezes me demora para “cair a ficha”, expressão cuja origem, creio, já não é percebida pelas crianças no Brasil. Pois aqui, a maioria dos “orelhões” funcionam simultaneamente com cartão ou “fichas” (na verdade moedas de qualquer valor). O que equivaleria à nossa “Zona Azul”, é totalmente automatizada, como nos filmes americanos: o motorista é que retira o cartão em máquinas espalhadas pelas áreas de estacionamento (seria o fim dos “guardinhas” em Piraju e Ourinhos). Interessante que há também aparelhos para retirar saquinhos para limpar a sujeira que eventualmente seu cão faça durante um passeio na praça.
Outra coisa: por aqui se aboliram as “catracas” (roleta, borboleta, ou o que o valha), seja para entrar no teatro, ônibus e até no metrô! De resto, tem-se o mesmo sistema automatizado que há na maioria das cidades brasileiras, mas sem catracas! É que pra mim, é inimaginável o metrô de São Paulo, por exemplo, sem esse dispositivo, com as pessoas “validando” ordeiramente seus bilhetes e entrando no trem. Só que neste ponto há que ponderar que a grande São Paulo sozinha possui mais habitantes que Portugal inteiro. Observar essas proporções é fundamental para fazer algumas comparações.
A cidade do Porto (2ª maior do país e onde tomei esse metrô sem catraca) tem apenas cerca de 1 milhão de habitantes. Mas não há que se iludir, sejamos justos com o Brasil, também aqui há ônibus urbanos lotados, com gente socada em pé, cocô de cachorro na calçada (a despeito dos já citados saquinhos) e os professores de nível médio estão mobilizados contra o sistema de avaliação e por melhores salários que, aliás, proporcionalmente, são bem inferiores aos do Brasil. Afora o fato de que um recém-licenciado em Letras, por exemplo, só consegue colocação no magistério muito raramente.
E falando ainda de proporções, prof. Laranjeira – meu orientador aqui – insiste em comparar Portugal ao Paraná, ambos apenas com duas cidades que se destacam (Lisboa e Porto – Curitiba e Londrina). Nessa lógica, Coimbra seria uma espécie de Maringá, ainda que menor. Mas faça-se agora justiça com Portugal: isso aqui é um país, e um país europeu com uma vasta história, muito diferente dos 70/80 anos que tem a maioria das cidades paranaenses.
Coimbra é aproximadamente do tamanho de Ourinhos, o que para as proporções daqui é uma cidade “média” (!), embora o prof. Laranjeira insista num certo provincianismo (caipiragem) da cidade. Veja-se apenas um exemplo bobo: há pelo menos 3 MacDonald´s nessa cidade de 130 mil habitantes (!) e 2 shopping centers como aí só encontramos em cidades do porte de Bauru, Campinas... Agora, a par desse aspecto de ostentação (não sei se essa é a melhor palavra) há sim com puxar pelo provincianismo: nos finais de semana temos uma cidade fantasma. Todos se entocam, vão às aldeias vizinhas em visitas familiares ou aos shoppings (no verão por certo vão à praia, que está a cerca de 40 km).
Outro pormenor: assim como em Piraju, onde se joga na rua os panfletos das “notas de falecimento” (em cidades menores anuncia-se nos alto-falantes da igreja), aqui, os necrológios – com direito à foto – são colados nos postes da rua. Mais provinciano que isto, impossível!
Quase já estava me perdendo sem encontrar um fecho adequado para o texto. Acho que estou ficando com sono, já são 11 menos 5 (é assim que se diz aqui, e não “5 pras 11”). Como também se diz 10 e ¼ para “10 e 15”; pra mim faz todo sentido, uma vez que usamos ½ para nos referirmos aos 30 minutos (meio dia e ½), por que não usar o ¼ para os 15?
Pois bem, o fecho: para quem não conhece, vale à pena ler As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, só para refletirem o quanto podem fiar-se nas palavras de alguém que se aventura a descrever a cidade.
2 comentários:
Marcio, seus textos sao sempre instigantes... acho muito pertinentes essas comparaçoes entre as culturas... é sempre assim quando estamos em terras estrangeiras...quero comentar algumas coisas, se me permite. Sobre a ausência de catracas... isso é questão de educação, eu acho, não do tamanho da cidade... em Pittsburgh, nos anos 80, eu achava o máximo vc colocar uma moedinha na máquina de jornal, que abria inteira, e daí vc retirava só um exemplar... ficava pensando como seria por cá... rss...
E o nome da funerária chega a ser poético...
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