sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Educação: canto contra a injustiça




Conforme prometi aos alunos formandos da Turma de Letras 2008 da FAFIL "Carlos Queiroz", deixo aqui o discurso deste Paraninfo ausente:




Prezados Dr. Adalberto
Profa. Adélia
Profa. Dra. Yara
Caros colegas professores e funcionários da FAFIL
Familiares e Amigos dos formandos
Enfim... caríssimos formandos, a quem se dirige de modo particular esta minha fala...
Muito boa noite a todos!...

Em 8 anos na FAFIL “Carlos Queiroz” é a primeira vez que falto a uma cerimônia de formatura, e justamente da 1ª turma que me escolheu para ser paraninfo... mas não tomem isso como uma desfeita. Gostaria muito de estar aí, mas as circunstâncias da vida de professor/pesquisador é que me puseram aqui hoje.
E conforme prometi a vocês há alguns meses estou mandando esta mensagem, que já viajou mais de 7000 quilômetros até aí.
Primeiramente gostaria de agradecer pela deferência que me fazem, de ser um dos homenageados desta noite tão especial pra vocês; significa que construímos alguma coisa de sólido em nossas relações durante esses três anos. Muito obrigado.

* * *

Aqui atrás de mim vocês podem observar parte da cidade de Coimbra. Lá no ponto mais alto, a Universidade, e logo aqui, o rio Mondego, um dos mais importantes de Portugal. E é justamente sobre rios que fala o poema de Alberto Caieiro (heterônimo de Pessoa, como sabem) que gostaria de ler para todos agora:

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele."
Percebem o quanto o poeta está nos dizendo que as coisas aparentemente sem importância – no sentido de não serem grandiosas ou famosas – elas acabam se tornando mais importantes pelo simples fato de serem coisas que nos tocam mais de perto, que dizem mais a nossa realidade e aos nossos sentimentos? (o riozinho da aldeia muito mais importante que o Tejo!!!?)

...

Bem... estou mandando para cada um uma pequena lembrança (pequena mesmo, “lembrancinha”): é um Galo de Barcelos, um símbolo de Portugal. A lenda do galo conta o seguinte:
Um dia um homem que estava a caminho de Santiago de Compostela foi preso na cidade de Barcelos, no norte de Portugal,... foi preso, julgado e condenado a morte por um crime que não havia cometido. No momento do seu enforcamento o condenado viu que o juiz ia comer um galo assado e então disse: “É tão certo que eu sou inocente, que esse galo vai cantar quando me enforcarem”. Todos riram. E na hora que o carrasco já passava a corda pelo pescoço do homem, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou... O homem foi solto e seguiu em paz.

...

Mantenham o galinho bem a vista de vocês (na bolsa, na estante da sala...), e quando o virem lembrem-se que ele simboliza um canto, um grito contra a injustiça. E vocês, hoje professores, tem o mesmo poder... a educação, o conhecimento, tem esse poder de cantar, de gritar contra as injustiças, mesmo que seja aí na aldeia de cada um, na escola onde cada um for lecionar, seja ao pé do rio Pardo, do rio Turvo, do “Panema” enfim... Faça a diferença para quem estiver ao alcance do seu canto.

* * *

Recebam todos o meu fraterno abraço.
Boas Festas! Felicidades!

Tenho dito.
Coimbra, Portugal, 28/11/2008

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